Nem mesmo as câmeras de vigilância e monitoramento inibem a ação dos criminosos
Mesmo com câmeras de vigilância, a bandidagem não se intimida. A ousadia com a qual alguns criminosos agem durante as suas ações, em especial as furto, mesmo diante de sistemas de monitoramento com câmeras, deixam questionamentos sobre o comportamento dos ladrões e coloca em xeque a eficiência da legislação brasileira, que ajuda a passar uma sensação de impunidade.
Imagens divulgadas de furtos em estabelecimentos comerciais, a maioria deles registrada nas madrugadas de Campinas e região, mostram marginais invadindo os locais sem qualquer preocupação em esconder o rosto. Em um dos registros, que aconteceu em Paulínia, em setembro, ao menos cinco homens apareceram caminhando tranquilamente em direção a uma chácara onde seria realizado o transbordo de uma carga de botijões de gás roubada.
Os suspeitos estão de cara limpa, sem qualquer tipo de disfarce. O crime ocorreu à noite. Na ocasião, a Guarda Municipal (GM) recebeu a denúncia e conseguiu recuperar a carga, prendendo duas pessoas.
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese) mostram que o Brasil tem, atualmente, 12 milhões de imóveis monitorados e mais de 4 mil condomínios com portaria remota. Esse monitoramento é realizado por 13 mil empresas.
Apesar da disseminação de câmeras de vigilância em espaços públicos, comércios e residências, que, em tese, gera uma sensação maior de segurança às pessoas e contribui para o trabalho da polícia, a tecnologia ainda é falha no quesito reconhecimento facial de criminosos, segundo o presidente do Conselho Nacional das Guardas Municipais, Carlos Alexandre Braga. “Em primeiro lugar (o criminoso não se preocupa em mostrar a cara), por causa da certeza da impunidade. Depois, pela falta de uma tecnologia que faça o reconhecimento facial diante de imagens, somado ao fato dos bandidos serem reincidentes, procurados e condenados e, de forma macro, devido a todas essas questões, o uso de câmeras não tem possibilitado a redução da criminalidade e uma melhora considerável na prevenção de ocorrências. O uso de tecnologia deve ser aliado a políticas públicas que tragam a redução efetiva dos crimes”, disse.
O consultor de Segurança Ricardo Lopes concorda que ainda existem equipamentos que não são eficientes, mas destaca que um projeto bem elaborado e adequado a cada situação – seja casa, comércio ou empreendimento - pode contribuir em muito para a elucidação de delitos. “Noventa por cento das investigações partem das imagens. É por meio delas que a polícia consegue identificar o histórico de uma ocorrência, por exemplo, roubo de um carro no estacionamento de um supermercado. É possível pelas imagens descobrir o percurso do veículo e até chegar ao(s) criminoso(s). Contudo, é importante que a ‘arquitetura’ dessas câmeras esteja bem projetada”, comentou.
Lopes orienta que, na contratação de um serviço de monitoramento por câmeras de vigilância, o cliente esclareça detalhadamente ao profissional aquilo que realmente espera para o seu negócio ou residência. “Quanto mais detalhadamente e assertivamente o cliente explanar sobre o que precisa, mais ele auxiliará o profissional contratado a definir a localização mais eficiente das câmeras. Às vezes, o cliente quer um projeto de segurança apenas para controle interno, mas o projeto também pode ajudar em uma eventual ocorrência. Há dois tipos básicos de motivação para a aquisição de câmeras de vigilância: a de controle geral, quando o cliente quer fazer somente o gerenciamento do negócio; e o de gestão de segurança, que é para inibir a criminalidade”, detalhou.
Segundo o consultor, no primeiro caso, geralmente, as câmeras são mal posicionadas, oferecem imagens ruins, turvas e são adequadas apenas para o controle de pessoas. Em uma segunda situação, apesar de serem adotadas por comércios, indústrias e condomínios, apresentam déficit grande nos equipamentos. “É fato que os municípios têm investido alto em sistemas de prevenção e controle de segurança, porém, os municípios compreendem territórios extensos e, desse modo, os projetos acabam ficando mirabolantes. Existem alguns que utilizam-se de câmeras privadas, mas, com isso, cresce a necessidade de trabalho investigativo. Se funcionam? Funcionam. Contanto que o projeto seja adequado à infraestrutura e arquitetura do local. Mas ainda se usa equipamento de baixa qualidade e isso impacta muito indiretamente.”
Lopes destaca que as câmeras utilizadas pelos municípios na entrada e saída das cidades são as únicas que dispõem de alto padrão de qualidade e realizam o controle visível de pessoas e veículos. A eficácia, segundo ele, atinge 99%.
Brechas na legislação
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Ronaldo Miguel Vieira, defende que as brechas na legislação brasileira acabam contribuindo para que o criminoso seja destemido nas ações. “São vários os fatores, mas, certamente, a impunidade é um deles.Percebese um anseio da sociedade pelo aperfeiçoamento da legislação. Não é o Judiciário que solta e sim a legislação que abre brechas para que isso ocorra. Para o crime de roubo, por exemplo, a pena precisa ser mais longa. Não tem que haver progressão. Somente deixando o indivíduo preso mais tempo, a tendência é a de redução desses indicadores. Se o bandido ficar mais tempo fora do seio da sociedade, ele vai parar de roubar. Mas se ele sair, vai praticar novos roubos até ser preso mais uma vez. Essa facilidade que ele tem com os benefícios legais é um dos fatores que gera a impunidade”, explicou, frisando a necessidade de a população registrar boletim de ocorrência para que a PM possa direcionar policiamento preventivo.
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